O músico, além da sensibilidade para tocar, necessita de um instrumento que capte esta energia e faça das notas musicais sua voz. E para que ocorra este processo, não basta apenas ser bom músico, mas extrair o som de um instrumento que tenha sido fabricado por um profissional que conhece suas curvas, medidas, inclinações, e demais fatores para que este seja único.
Paulinho tem esta habilidade e a utiliza há 12 anos, como luthier, na confecção de guitarras e contra-baixos. Começou a trabalhar em marcenaria, desde os 12 anos de idade, na fabricação de móveis. Aos 16 anos, chegou à São Paulo, e continuara seu ofício. Em Barueri, conheceu o Sr. Tashima, renomado no mundo musical, onde começou a trabalhar como ajudante.
Ele diz que não acreditava ao “ver a primeira guitarra na mão do músico”, pois para ele “trabalhar com madeira é trabalhar como o coração, pois dali vai sair uma peça”. E completa: “cada peça tem seu lugar exato para tocar bem, se não estiver, não vai tocar legal”. Passou a receita de como transpor sentimentos humanos aos instrumentos, ou seja, “dar vida própria” à guitarra.
Quanto às madeiras utilizadas: mepo, jacarandá e marfim (braço); marupá, cedro-rosa e mogno (corpo). Ele, inicialmente, risca o molde do instrumento, serra circularmente, para em seguida planá-la, na espessura certa. Para a parte interna, Paulinho diz que “a madeira é escavada, para depois fazer um shape, para ficar com um corpo melhor”. Para em seguida, ver toda a parte elétrica. Eu perguntei se há diferença na fabricação da guitarra e do contra-baixo, ele me disse que “as técnicas são iguais, o que muda é a escala”. Mas disse que para o violão, as técnicas são diferentes.
Como luthier experiente, ele sugere alguns cuidados com o instrumento: que se faça, a cada dois meses, manutenção da guitarra; limpar sempre com flanela seca (nada de molhá-la); não encostar o braço do instrumento na parede, para não empenar; por haver uma pressão muito forte nas cordas (50kg na guitarra e 80k no contra-baixo), trocá-las a cada 20 dias; ter um pedestal, bag ou case; evitar paredes úmidas e nunca expor ao sol.
Paulinho sabe o que fala, pois suas obras de arte já estiveram em mãos de Kiko Loureiro, Juninho Afram, entre outros. Além disso, também é músico, então entende os dois lados da moeda quanto à questão da exigência dos profissionais, e lida com isso da forma mais natural.
Depois muitos anos na Tashima, atualmente está na MusicMaker. Mas continua trabalhando como free-lance, ou seja, muita gente boa ainda recorre a ele para ter certeza de qualidade. Por isso, perguntei a ele sobre o campo de trabalho, “o mercado está cheio, mas muito acham que sabem com apenas um ano. Não basta teoria, mas muita prática. Para uma boa formação, de 9 a 10 anos”, disse Paulinho.
Seu carisma pessoal transcende qualquer barreira, suas mãos transferem ao instrumento toda esta energia positiva que possui. Consegue colocar a razão e emoção lado a lado, para auxiliá-lo na confecção de instrumentos tão fantásticos quanto seu ofício. Obrigado pela guitarra que nos faz “navegar por mares nunca antes navegados”.
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